Internet Source: Globo, September 27, 2000
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Rubens Valente
SÃO PAULO. Antes mesmo do lançamento do livro "Darkness in El Dorado" (Trevas em El Dorado), no qual o jornalista americano Patrick Tierney acusa o geneticista James Neel e o antropólogo Napoleón Chagnon de terem causado a morte de centenas (ou até milhares) de ianomâmis em 1968 na Venezuela, dezenas de cientistas saem em defesa dos cientistas, principalmente de Neel. Dois deles atuam o Brasil: o geneticista gaúcho Francisco Salzano, um dos maiores cientistas do país, e o antropólogo francês Bruce Albert, que há 25 anos estuda os ianomâmis.
Tanto Salzano como Albert afirmam que cerca de mil índios também foram vacinados em território brasileiro, diferentemente do que informou anteontem a Fundação Nacional do Índio (Funai). De acordo com um texto datado de 1970, que faz parte do arquivo pessoal de Albert, Neel e sua equipe acompanharam e fizeram notas sobre os efeitos da vacina contra o sarampo nos índios no Brasil e na Venezuela.
- O tipo de vacina e os métodos usados na vacinação estão todos descritos nesse trabalho - diz Bruce Albert.
Amigo pessoal e discípulo de James Neel até a sua morte, em fevereiro deste ano, Salzano garante que os relatos de Tierney são infundados.
- Quando Neel já estava em Caracas, capital da Venezuela, de onde partiria para a aldeia ianomâmi, ele recebeu a notícia de que os índios haviam contraído sarampo da filha de um missionário. Ele então pediu ajuda do Governo americano, que enviou as vacinas contra o vírus aplicadas nos índios - relata Salzano.
As palavras do geneticista coincidem com as declarações da antropóloga americana Susan Lindee, da Universidade da Pensilvânia, que, ao ler as acusações feitas a Neel, analisou os arquivos do Centro de Controle de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês).
- James Neel não só solicitou e conseguiu as vacinas, como também tratou de todos os índios que manifestaram os sintomas da doença - disse Susan à Associação Americana de Antropologia (AAA).
Francisco Salzano nega que as aplicações tenham causado alguma catástrofe. Os efeitos da vacinação, segundo Salzano, foram acompanhados pela equipe com autorização dos governos venezuelano e brasileiro e seguiram todos os padrões éticos. O objetivo era saber como o organismo de pessoas pertencentes a grupos isolados, como os ianomâmis, reage à vacinação contra doenças infecciosas.
As pesquisas da equipe de Neel incluíam a coleta de amostras de sangue para estudo genético. As expedições eram em parte financiadas pela Comissão de Energia Atômica (AEC) do Departamento de Energia dos EUA. Salzano diz que o Departamento "financia pesquisas do gênero em todo o mundo e é um dos patrocinadores do projeto Genoma Humano". (Colaborou Mariana Timóteo da Costa)
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